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Fonte : O Estadão
Por que os cristãos de Aleppo temem a queda do regime na
Síria?
GUSTAVO CHACRA
21 Agosto 2015 | 15:16
Obs. Sim, este é mais um texto meu sobre os cristãos do
mundo árabe
Aleppo, uma das cidades mais cosmopolitas do mundo em
séculos passadoa, virou o resumo da Guerra da Síria. A sua metade oriental,
controlada por grupos rebeldes opositores ligados à Frente Nusrah (Al Qaeda),
está destruída e empobrecida. A parte ocidental, controlada pelo regime, ainda
tenta sobreviver.
Neste momento, não dá para saber quem vencerá a batalha por
Aleppo. Há cerca de dois anos, prevalece este impasse, sem um lado conseguir
derrotar o outro. A população avalia ambos como brutais, mas muitos preferem
tolerar o regime em vez de uma oposição ultra extremista. Isso se aplica
especialmente aos cristãos.
Como sempre digo, há uma máquina de propaganda que há
décadas tenta ignorar a existência de cristãos no mundo árabe ou as reais
posições deles (normalmente anti-Israel, anti-radicalismo islâmico, anti-EUA,
pró-Palestina e pró-Rússia ou, no caso libanês, uma identidade francófona). Um
brasileiro facilmente entenderia a importância dos cristãos árabes se
observasse que nove em cada dez sírio-libaneses ou descendentes que eles
conhecerem no Brasil são cristãos – eu sou neto de cristãos libaneses.
Em Aleppo, muitos cristãos partiram, mas outros continuam a
viver suas vidas, indo a restaurantes, a igrejas, a universidades. E sabem que,
se o regime de Bashar al Assad cair, a herança cristã de Aleppo será destruída
pelos extremistas da oposição síria – não apenas os do ISIS (Grupo Estado
Islâmico ou Daesh), mas também pelos outros grupos rebeldes. Portanto, antes de
criticar o posicionamento de um cristão a favor das forças de Assad, lembre que
para eles isso é uma questão de existência.
Noto que tudo depende do contexto – muitos cristãos
libaneses possuem péssimas memórias da ocupação síria do Líbano e não toleram
Assad. Ainda assim, entendem que o regime de Damasco (não necessariamente
Assad), junto com o Hezbollah, é a única barreira entre eles e o ISIS ou a Al
Qaeda (escrevi sobre isso na semana passada).
Muitos, corretamente, temem pelo futuro dos judeus no
Oriente Médio. Mas me surpreende a falta de preocupação com o futuro dos
cristãos, que, no mundo árabe, estão a salvo apenas no Líbano. E me impressiona
mais ainda como alguns no Ocidente desconhecem completamente a situação dos
cristãos árabes. Chama a atenção algumas igrejas evangélicas inclusive no Brasil
que, embora bem intencionadas, apoiam sempre os lados adversários do cristãos
na região por não compreenderem o cenário local. Até hoje, o conservador Ted
Cruz, pré-candidato do Partido Republicano, escuta as vais que recebeu de
cristãos libaneses, sírios e palestinos por suas declarações. Ele até queria
apoiar os cristãos árabes, mas descobriu que não entende nada sobre eles.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do
Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações
Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O
Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como
correspondente da Folha em Buenos Aires
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